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Folha lança campanha e promove seminário sobre energia limpa no Brasil

Ao completar 103 anos nesta segunda-feira, dia 19, a Folha de S. Paulo lançou uma campanha pela expansão da energia sustentável no Brasil. A pauta da transição energética estará presente no slogan do jornal e será tema, a partir de agora, de seminários e novas colunas.

O primeiro passo dessa campanha foi a promoção do seminário "Energia Limpa: a transição energética no Brasil", que aconteceu na manhã desta mesma segunda, no auditório da FSP, na região central da capital paulista.

Em editorial publicado na edição de hoje, o jornal destacou que é "difícil imaginar setor importante da atividade econômica que cresça com o dinamismo das energias limpas. Assiste-se a um frenesi de investimentos, ainda insuficientes, porém, para destravar uma transição energética capaz de conter o aquecimento global".

Como exemplo desse "frenesi", a FSP lembra que, "só no ano passado se agregou o equivalente a 36 Itaipus de capacidade de geração de eletricidade por fontes de baixo carbono. A Agência Internacional de Energia prevê que o salto de aportes deva triplicar a geração potencial por fontes limpas até 2030".

Segundo o editorial, "espera-se que energias solar e eólica venham a ser responsáveis por 95% da expansão. As modalidades limpas ultrapassarão o carvão mineral na geração, alcançando 42% da matriz elétrica global". Nesse panorama, o jornal lembra que "a matriz elétrica brasileira é uma das mais limpas do planeta, com 80% ou mais de renováveis".

No seminário de hoje cedo, os empresários, políticos e especialistas presentes demonstraram otimismo ao considerarem esse conjunto de dados apresentados acima. Mas também levantaram questões que precisam ser resolvidas para o país desenvolver todo seu potencial na transição energética.

Entre os pontos em que é preciso evoluir eles apontaram a falta de coordenação em políticas públicas e na questão tributária, a necessidade de investir mais em ciência e tecnologia e um trabalho para melhorar a imagem do país no exterior, sobretudo diante dos detentores do capital para financiar os investimentos.


O deputado federal Aliel Machado

Primeiro a falar, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR), afirmou que "o Brasil já cumpriu grande parte dos seus compromissos, principalmente se comparado com a Europa, na questão da energia renovável. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo", disse o relator do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono.


Gesner de Oliveira

"O país está em uma situação curiosa", avaliou Gesner de Oliveira. "Temos uma matriz energética limpa, com 84% de eletricidade de fontes renováveis. É uma vantagem que nunca tivemos desde os tempos coloniais, essa vantagem comparativa", comparou o economista, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-presidente da Sabesp.

Gesner de Oliveira procurou situar o atual momento do setor no país: "estamos na pole position mundial da transição energética, mas com um carro inferior aos que são feitos nos Estados Unidos, na Europa e na China", referindo-se a alguns dos pontos críticos levantados durante as conversas, como regulação e reindustrialização.

Reindustrialização e produção de baterias elétricas


Essas questões foram colocadas por Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), entidade que segundo o executivo, já conta com mais de 100 empresas associadas. Ele falou sobre as oportunidades que surgem - ou voltam - para o país fabricar ônibus e caminhões elétricos. E garantiu que em 2024 haverá oferta de carros elétricos por cerca de R$ 100 mil, sem detalhar estratégias que "só podem ser reveladas pelas montadoras".


Ricardo Bastos

Ricardo Bastos ressaltou também, nessa cruzada em busca da reindustrialização do setor automotivo, sobre a necessidade do mercado local dominar a fabricação de baterias elétricas, já que por enquanto a importação domina essa importante etapa da montagem de carros, motos, caminhões e ônibus.

Dirigindo-se à questão tributária, Bastos opinou que ela "não está sendo bem coordenada pelo governo. Quando você vai no detalhe, não conseguimos mover essa burocracia de Brasília", disse o presidente da ABVE.

"A tributação privilegia os carros a combustão. O governo colocou critério de potência, o que não faz sentido para carros elétricos. A eficiência energética é completamente diferente. Isso pode limitar a tecnologia e, se for assim, não adiantam os investimentos que estão vindo para o Brasil. Isso faz, segundo o representante da ABVE, com que um veículo a diesel e poluente possa custar menos para o consumidor do que um elétrico.


Alexandre Baldy

Alexandre Baldy, conselheiro especial da BYD do Brasil, montadora chinesa de carros elétricos, afirmou que, apesar desses gargalos relacionados à tributação e regulação, a líder mundial do setor "entendeu a política publicada pelo governo federal para o setor" quando resolveu investir no país.

Ele acrescentou à discussão a importância de o país focar esforços em matrizes industriais onde tem chance de obter escala global. Segundo Baldy, que foi ministro das Cidades no governo de Michel Temer, "em dado momento, a China cometeu erros no setor automotivo e resolveu dar um passo atrás para investir em ciência e pesquisa. Quando a eletrificação da frota ganhou força no mundo, o gigante asiático saiu na frente dos demais atores globais".

Luciana Costa, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que representou o presidente da instituição, Aloízio Mercadante, o maior gargalo do Brasil não é regulação e governança, o que o país já tem muito bem construído. Para não perder a atual janela de oportunidades, afirmou, é preciso enfrentar a concorrência global.


Luciana Costa

Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, ela disse que o Brasil tem atualmente uma boa vantagem comparativa (recursos naturais, por exemplo) em relação a outros países, mas ressaltou que isso ainda não se traduziu em vantagem competitiva.

Para que o país chegue a esse ponto, ainda segundo Luciana Costa, é preciso uma política global de mercado que precifique o aumento nos impostos sobre a indústria que tem grande impacto na emissão de carbono.

"Aqui é um país que cumpre contrato, que tem um ambiente regulatório estável (...). A gente precisa usar toda essa vantagem comparativa e gerar valor agregado. Vai ser com regulação, mas a gente vai ter que enfrentar essa concorrência global. Para mim, o grande desafio é essa concorrência global."

Mostrando otimismo, Luciana Costa finalizou dizendo que, se o país conseguir cumprir suas metas de transição energética aproveitando-se de suas vantagens competitivas, "podemos pensar em ficar neutros em carbono antes de 2050".