ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Subsídios, novos combustíveis e armazenamento entram nas discussões do seminário da Folha

Na última rodada de discussões no seminário "Energia limpa: a transição energética no Brasil", realizado nesta segunda-feira, dia 19, no auditório da Folha de S. Paulo, na capital paulista, subsídios ao setor elétrico, assim como novas formas de combustíveis limpos (hidrogênio verde, etanol de milho e SAF - combustível sustentável de aviação) e sistemas de armazenamento de energia, ganharam destaque nas apresentações dos participantes.


O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa Neto, disse ser necessário rediscutir os subsídios oferecidos ao setor elétrico, repassados para a conta do consumidor.
De acordo com o 'subsidiômetro' divulgado pela agência, a quantidade de subsídio no setor de energia elétrica em 2023 já ultrapassou a marca dos R$ 37,4 bilhões -o patamar vem crescendo nos últimos anos.


O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa Neto

Ele apontou o custo da tarifa de energia como um dos fatores que desestimularam a indústria no país, e falou também sobre a modernização da operação do sistema. "A expansão da geração no Brasil, a última fronteira, será toda ela renovável, mas há uma questão da operação a ser discutida. Toda a energia gerada agora - hidrelétrica, eólica e fotovoltaica - está sendo usada neste momento", exemplificou.

"Para dar maior segurança a esse sistema, nós teremos um grande salto com novas fontes e tecnologias como o uso do armazenamento de energia. O Brasil tem um dos maiores estoques de minerais, o que pode levar o país a se tornar um líder como produtor de baterias", destacou Sandoval Neto.

"A grande perspectiva que temos é de aproveitar este momento exuberante dos nossos recursos naturais e da tecnologia que foi construída para transformar a vida das pessoas. Temos, hoje, uma energia elétrica mais barata e uma tarifa cada vez mais cara, o que mostra que temos um problema que tem de ser resolvido no meio do caminho", disse ele, que também fez um histórico do desenvolvimento das hidrelétricas como pioneiras do uso de energia limpa no país.

Para o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, "o Brasil já está em uma posição de destaque mundial no que diz respeito a energia.


O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim

Para o executivo da Petrobras, a descarbonização do planeta ocorrerá a partir da eletricidade produzida por fontes renováveis. Ele afirmou, no entanto, que alguns setores, como petroquímico, de refino, siderúrgico e de fertilizantes, precisarão de outra fonte de energia, o hidrogênio, por ser mais viável.

"No curto prazo, a gente vai investir em energias eólica e solar onshore e também na parte de biocombustíveis, como o diesel renovável, porque são tecnologias que já estão maduras e têm infraestrutura. Mas o que mais me parece promissor, em médio prazo, é o hidrogênio verde", disse Tolmasquim.

Ele afirmou que o hidrogênio verde será importante para a produção de combustíveis como etanol verde e combustíveis sintéticos -feitos a partir da combinação entre hidrogênio e gás carbônico.
Já a ex-senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu, outra participante do painel, destacou a importância do etanol obtido a partir do milho.


A ex-senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu

"É uma energia que nasce em 2017 e já é uma grande fonte espalhada pelo Brasil. Nas suas vantagens comparativas, o etanol de milho dá o ano inteiro, não só na época das chuvas", afirmou.

Outra vantagem apontada no etanol de milho é o DDG (sigla em inglês para grão seco de destilaria), obtido também na produção de etanol. Esses grãos são ricos em proteínas, vitaminas e aminoácidos e são usados na alimentação de gado.

A ex-senadora afirmou que o agronegócio brasileiro cresceu por meio de subvenções (auxílios do governo), que, segundo ela, permitiram ao setor suportar a taxa de juros de outros países.

Abreu afirmou, porém, que esses benefícios devem ter validade. "Para a saúde econômica, as longevas subvenções podem trazer a morte de outros setores que ficam no entorno."

Para Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners e ex-secretária de desenvolvimento econômico de São Paulo, o Brasil tem a oportunidade de liderar a pauta da transição energética e passar a crescer mais do que a média do PIB (Produto Interno Bruto) mundial.


Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners e ex-secretária de desenvolvimento econômico de São Paulo

"Nós temos a única chance de deixar de ser o país do 'PIBinho' para sermos um país que cresce 5% ao ano e distribuir essa riqueza para a população", afirmou.

Ellen apontou etanol do milho, SAF (combustível sustentável de aviação) e hidrogênio verde como fontes de energia e biocombustíveis que podem ajudar o país a agregar valor ao seu PIB.

"Nós estamos exportando produtos de baixo valor agregado e teríamos uma chance de estar adicionando renda à população."

Jerson Kelman, ex-presidente de empresas como Light, Sabesp e da Aneel, disse que o setor elétrico enfrenta hoje problemas de governança. Segundo ele, o Congresso Nacional toma decisões por interesses de alguns setores.


Jerson Kelman, ex-presidente de empresas como Light, Sabesp e da Aneel

"Nós temos visto o Congresso atuando em função de 'lobbies' que defendem essa ou aquela tecnologia sem uma visão integrada. Nós temos que retomar a liderança do setor elétrico, porque corremos grave risco", alertou.

Nesse sentido, Kelman aponta os subsídios como políticas públicas que foram perpetuados por lobby. "É necessário que o Congresso Nacional volte a ter a visão de política com 'P' maiúsculo e deixe de ficar aceitando o toma lá dá cá de políticas centralizadas."